segunda-feira, 29 de outubro de 2012

MINI CONTOS INFANTIS


A CAMISOLA DE LÃ

 O estendal da Rita estava cheio. Pijamas, camisas, toalhas, peúgas e calcinhas enchiam os arames baloiçando ao vento e secando ao sol. Estavam felizes e alegres, exceto a camisola de lã. Pendurada pelos ombros, tentava não ouvir o que resmungava as calças de ganga. Presas pela cintura, as novíssimas calças gritavam para que todos escutassem que não pretendia fazer par com a camisola. Quando as gémeas peúgas perguntaram porquê, respondeu que ela estava velha e sem cor.

A CÂMERA FOTOGRÁFICA

 Quando parou de chover e o sol irradiou o dia, Joana pegou na trela e levou a caniche a dar um passeio. Estava um lindo dia primaveril para libertar risos e sorrisos, travessuras e brincadeiras. Assim que pisou o chão, Canita desprendeu-se da dona e correu para um caixote do lixo. Chateada, Joana foi atrás dela, pois não gostava de vê-la roer ossos. Mas surpresa, o osso escondido era uma máquina recheada de fotos com maravilhosas paisagens.


O ELÉTRICO

 Quando o comboio chegou à aldeia todas as pessoas juntaram-se na estação para admirar de perto aquela metálica lagarta. O dia seria de festa e de alegria, pois não havia ninguém que não quisesse viajar nele. O entusiasmo era tanto que depressa se esqueceram do pequeno elétrico amarelo acostumado a levar toda a gente pelas aldeias ao som da sua melodiosa campainha. No furor da agitação, não pensaram num funeral digno, mas ele agora era uma relíquia.
 

FÉRIAS

 Ainda o galo não tinha cantado, já o Paulo e a Lara estavam na estação à espera do comboio. As aulas tinham terminado e aqueles momentos eram sempre de ansiedade até à chegada dos primos que vinham de férias. Tinham ajudado a avó a colher maçãs, amoras e morangos para os doces, e estavam desejosos pelas brincadeiras. Mas antes teriam de pôr o Tomás na banheira. Ele não resistia à tentação de aparecer com o rosto mascarrado.
 

A AVÓ MATILDE

A avó Matilde gostava de passar as tardes sentada à janela de onde mirava o vaivém das pessoas na rua. Ria com as crianças ao mesmo tempo que escutava o som dos pássaros empoleirados nos ramos das árvores do jardim. Sem nunca perder a atenção do exterior, ajeitava os óculos na ponta do nariz para voltar aos seus afazeres. Lindos trabalhos de bordados e croché que as talentosas mãos da avó Matilde faziam quando manejavam a agulha.

 DOCES DE NATAL

 João adorava o Natal. Via os presentes antes da hora, e devorava os doces. Naquela tarde, quis ajudar a avó na confeção das filhoses, ou melhor dizendo, quis atrapalhar.

— Não tens com que te entreter lá fora?! — ralhou a D. Felisberta.

— Aqui dentro é mais divertido — respondeu, com um sorriso maroto. — Posso ajudar a amassar?

— Podes ir embora.

João não resistiu e colocou a mão no alguidar. No fim, saiu com o rosto também recheado de massa.

 
O LAGO

 Quando o nevão caiu cobrindo de branco os telhados das casas e gelando os lagos, todas as pessoas correram à rua. Crianças construíam bonecos de neve com a ajuda dos pais e jovens tiraram do armário os patins. Filipa tinha seis anos e ainda não podia patinar. Mas por 10 minutos conseguiu esse desejo, e exibindo lindas piruetas pôs a aldeia a aplaudir. No regresso a casa teve uma surpresa. Iria para uma escola de patinagem artística.

 O LIVRO MISTERIOSO

 Quando a mãe da Sofia obrigou-a a arrumar o sótão, fez uma careta que durou uns 10 minutos. Só até ao momento em que descobriu um enorme livro de capa grossa e páginas amarelecidas. Desinteressou-se logo das limpezas, largou a vassoura e sentou-se no chão. «Que livro seria aquele?» Parecia antigo, mas só havia uma maneira de descobrir. Abri-lo e desvendar os segredos que ele estava disposto a revelar-lhe. As palavras sussurravam uma estória inacabada. Sofia sorriu.

O PALHAÇO

— Despacha-te! — gritou a mãe para o Francisco. — Ou vais chegar atrasado à escola.

— Já estou pronto! — respondeu, enfiando à pressa uma colherada dentro da boca.

— Não, não estás. Ainda não te calçaste!

Na atrapalhação, Francisco derrubou a tigela, e espalhou os cereais e o leite sobre a mesa.

No regresso, pôs a mãe a rir.

— Tu vais para a escola ou para o circo?

— Escola. Não tenho cara de palhaço.

— Mas tens um sapato de cada cor!

 

AS NOTAS MUSICAIS

Numa manhã, toda aldeia despertou soalheira. O céu estava azul, as árvores verdes e as flores viçosas. Mas algo errado se passava. Os rouxinois cantavam e não se escutavam. Os canários entoavam e não libertavam nenhum piar. Os trovadores tocavam os alaúdes e as cordas não gemiam. As pessoas teriam ficado surdas? Todavia, os gatos miavam e os cães ladravam. Descobriram que Mozzarin, o senhor do castelo, tinha roubado as notas musicais e fazia-as desaparecer das pautas.

JARDIM DE PALAVRAS

 Às 17h04m, Januário levantou-se da cama. Descalço, percorreu o soalho morno do quarto até aos azulejos frios da cozinha. Passara o dia a dormir para estar acordado à noite. Pegou no pacote de leite do frigorífico e sorveu dois golos. Dirigiu-se até à sala, sentou-se em frente da máquina de escrever e colocou a folha branca no rolo. No fim, estacou com o dedo a pairar sobre uma tecla. Como seria o seu próximo jardim de palavras?

 
PIANO

 O senhor Zé escolheu uma das mais antigas e belas profissões do mundo. Quis ser carpinteiro e durante cinquenta anos construiu armários, móveis, camas, mesas, cadeiras e tudo o que as pessoas da aldeia e arredores lhe pediam. Certo dia, teve o pedido mais surpreendente, mas também o mais grandioso que alguma vez podia ter tido. Construir um piano. Parecia difícil, mas como nas mãos habilidosas do senhor Zé não havia impossíveis, todos os desejos eram concedidos.

21 comentários:

  1. Adorei ler os minicontos. Adoro a criatividade dos amantes das palavras que desenham paisagens e contornam a nossa vida com elas.

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  2. São pequenas e maravilhosas construções espelhada em uma realidade fantastica do cotidiano.

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  3. Odeio isso minha professora me obrigou a fazer

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  4. Uma pessoa que escreve ou e um alnafabeto

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  5. Respostas
    1. fdp é vc sei q criticou tds daqui seu merda 😰

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